Depois de muitas noites dormindo sobre um papelão no chão da calçada, Ivonete Rosa de Menezes, mais conhecida como Dona Maria, pôde relembrar como é o conforto de uma cama. Saíram os sacos e papelões e entraram as paredes e os móveis da sua nova casa, em um loteamento na Vila Brenner, entregue pela prefeitura à idosa na tarde de quarta-feira. Contudo, ficam alguns questionamentos. Como Dona Maria irá pagar as contas? Ela ficará mesmo longe da rua?
Apesar de já ter garantidos os documentos de identificação, por volta das 11h desta quinta-feira, a ex-moradora de rua estava, de novo, na esquina onde sempre ficou, com seus papelões e sacolas. A idosa que, antes, se mostrava resistente a conversa desde que a prefeitura retirou seus pertences em 19 de fevereiro, esbanjava sorrisos e estava com os olhos marejados:
_ Minha casa é muito boa. Tem banheiro e até quadro na parede. Quero deixar tudo limpinho _ conta Dona Maria.
Um mês depois de ter negado a casa que a prefeitura lhe daria, na quarta-feira ela aceitou o lar. A negociação contou com a ajuda de uma rede de amigos que a acompanharam todo o processo de convencimento da mudança. Sofá, fogão e geladeira vieram por meio de doações. Uma loja também colaborou com parte dos móveis.
Uma vizinha que morava próximo de onde Dona Maria passava seus dias se encarregou de arrumar toda documentação, que incluiu certidão de nascimento, CPF, RG e Título de Eleitor. Equipes da prefeitura providenciaram a ligação da água e da energia elétrica e o transporte da moradora.
Para a secretária Municipal de Assistência Social, Margarida Mayer, a prefeitura ajudou a oferecer uma nova possibilidade:
_ Ninguém faz nada sozinho. A mudança da Dona Maria só foi possível graças aos seus amigos _ diz Margarida.
Os próximos desafios de Dona Maria
Além do registro da casa, Dona Maria agora conta com todos os documentos de identificação, e deve ser inscrita no programa Bolsa Família, do governo Federal.
Segundo a secretaria Margarida Mayer, é importante que a moradora possa ampliar sua renda, tendo liberdade para escolher o que ela diz gostar de fazer: a coleta de materiais recicláveis. A moradora será orientada a continuar com o ofício para se manter em atividade.
Os próximos passos serão viabilizar a isenção de água, luz e manter a assistência em saúde garantida.
Nesta quarta-feira, o Diário esteve por duas vezes na nova residência de Dona Maria, pela manhã, por volta das 10h, e à tarde, por volta das 18h. Porém, a nova moradora do local não estava em casa e, sim, no Centro.
_ E se resolverem me cobrar pela casa? Ninguém dá nada de graça para ninguém. E se me dá um troço e eu adoeço sozinha na casa? Esse lugar é meu lazer e aqui tenho amigos. Na casa, só apareço para posar _ afirmou a moradora.